A ilusão do “like”

Hernani Dimantas – Fiquei pensando naqueles marqueteiros que compram seus likes como se fossem a última novidade em publicidade. Estão apenas trocando seu rico dinheirinho pela ilusão de conquistar o mundo num instante.

A revolução digital deu uma estancada. Internet não é para alcançar multidões, mas para conversações. Cada um tem a Internet que merece.Eu ando bem de saco cheio do funcionamento atual da internet. Principalmente no que tem se constituido como a web 2.0 (ou superior). O esquema proposto pelos desenvolvedores do facebook e de outros aplicativos de redes sociais privilegiam a ideia do curtir e compartilhar como se fossem as únicas formas de interação online. Os comentários são usados para um debate bate-boca ou para reiterar aquilo que se fala. Corações e emoticons são um plus nesse cotidiano digital.

Não tenho uma resposta para esses features que se alastram na rede. mas tenho críticas. Curtir é um apoio não muito sincero para os posts, imagens, vídeos.

Nessa semana, uma amiga querida fez um post enorme em homenagem a sua mãe. Eu li todo aquele textão, pois além de ter conhecido a homenageada e ter tido um relacionamento amigável com ela, gosto muito da filha e autora do texto. Curti. No entanto, após um tempinho minha amiga veio inbox me perguntar se eu realmente havia lido tudo para curtir. Disse que sim e, perguntei se ela iria me tomar? Respondi com facilidade seus questionamentos e percebi o quão frágil é essa interação. Desta vez eu havia lido, mas outras tantas, em outras situações eu usei meu curtir apenas como uma ferramenta de profusão de afetos. Não necessariamnete havia lido ou mesmo curtido de verdade. Curtir não é sobre audência. É sobre relação.

Assim, fiquei pensando naqueles marqueteiros que compram seus likes como se fossem a última novidade em publicidade. Tadinhos, estão apenas trocando seu rico dinheirinho pela ilusão de conquistar o mundo num instante.
Pensar na web exige um engajamento dos interlocutores em rede. Não dá pra achar que a informação corre solta e se multiplica como um viral a cada momento. Viralizar um assunto depende principalmente do engajamento das pessoas pelo tema. Assim, percebo que muitas vezes é mais fácil viralizar bobagens do que assuntos mais sérios. As pessoas preferem informações efêmeras, que se desmancham no scroll da timeline. É duro, mas é a real.

A promessa da Internet sempre foi o retorno da voz. A possibilidade de postar ideias, debater e fazer do conhecimento um agente de transformação da sociedade. Entendo que avançamos bastante desde que os cabos conectaram os computadores e criaram essas redes tão potentes. Mas acredito também que a revolução digital deu uma estancada. Talvez pelo crescimento de um uso, de certa forma indevido, que é provocado pelas empresas, pela política e pelo marketing. Estes querem apenas que a informação emitida por eles alcancem o máximo de pessoas. Uma emulação capenga da mídia de massa que foi caducada pela entrada da tecnologia digital e o impacto desta tecnologia na sociedade. Internet não é para alcançar multidões. Ou melhor, a internet é para as pessoas conversarem entre elas. Um fluxo rizomático e despretensioso. Sem um resultado final que possa ser mensurado e vendido como o espirito do tempo.

Pois, o Fla-Flu, as informações contraditórias, o excesso de mentiras, os fakes são todos criados para confundir. Onde está a inteligência coletiva? Cadê a revolução não televisionada? Por que será que as propostas para um mundo melhor não deslancham? São perguntas nas quais suas respostas estão em cada um de nós. Vale refletir.